O Brasil é o maior exportador de carne de frangos in natura do mundo, com 35% das exportações totais destes produtos (MAPA, 2022). Em 2022 exportou 4,447 milhões de toneladas (ABPA, 2023) e há previsão de que para 2023, haja exportação de 4,560 milhões de toneladas (USDA, 2023).
Dada a importância desse mercado para a economia do país, é importantíssimo mitigar os riscos atrelados a estas exportações, entre eles as barreiras sanitárias. A presença de salmonelas na carne de frangos é, de longe, a mais importante delas pelo elevado custo social que estas infeções determinam à população.
As salmonelas (exceto os biovares Pullorum e Gallinarum) são altamente prevalentes nas criações avícolas. Todos os sorovares de salmonela são potencialmente patogénicos ao homem e animais. Nas criações avícolas, sua presença não determina sinais clínicos, nem perdas económicas significativas e seu controle é complexo e de elevado custo. Por isto da dificuldade na implantação de ações que precisam ser adotadas em toda a cadeia produtiva com o conhecimento e aprovação dos dirigentes das empresas.
São conhecidos e identificados mais de 1.600 sorovares de salmonelas. Entretanto, apenas um número muito pequeno está envolvido nas infeções humanas com origem na carne de frangos. Assim, autoridades sanitárias internacionais, já a alguns anos, listaram a Typhimurium e Enteritidis como os dois sorovares de controle e erradicação compulsória nas criações avícolas em todo o mundo. Trabalho este que foi muito bem feito por toda a indústria avícola brasileira, reduzindo-os a valores quase insignificantes. Entretanto, outros sorovares como a Heidelberg e Minessota (com características zoonóticas) tomaram este espaço e passaram a dominar nos isolamentos avícolas e infeções humanas, apresentando elevada capacidade de sobrevivência nas aves e meio ambiente. Estudos recentes (GOMES et al, 2022) demonstraram a presença de salmonelas em 8,3% das amostras de carne de frangos analisadas e em 25% das amostras das camas de frango, mesmo após tratamento (Voss-Rech et al., 2019).
Por muito tempo se lançou mão do uso de antimicrobianos no controle de salmonelas em aves e, ainda se utiliza em algumas situações especificas. O Brasil esteve entre os top 5 no uso de antibióticos no mundo juntamente com China, Estados Unidos, Austrália e Índia, correspondendo juntos a 58% dos antibióticos usados no mundo (MULCHANDANI et al., 2023). Lamentavelmente, estudos revelam índices elevados e crescentes de resistência aos antimicrobianos como as sulfonamidas, fluorquinolonas, tetraciclinas e beta-lactâmicos por sorovares de salmonelas de interesse em saúde pública, em todo o mundo. Estes achados reduzem as ferramentas (antibióticos) de tratamento das infeções humanas, quando se faz necessário. Por esta razão e também pelos resultados duvidosos do seu efeito no controle das salmonelas, o uso de antimicrobianos vem sendo proibido em todo o mundo, o que têm implicado na necessidade de se buscar alternativas aos antibióticos para este propósito.
O controle de salmonelas – como mencionado anteriormente – requer uma abordagem e ação em todos os segmentos da cadeia produtiva. Isto inclui boas práticas de manejo, cuidados com contaminação das matérias-primas usadas na fabricação das raçoes, medidas de biosseguridade rígidas e um suporte de controle laboratorial com metodologias especificas, treinamento pessoal com análise dos resultados e tomada de medidas apropriadas de controle para cada etapa, dos pintos nos incubatórios as carcaças nos abatedouros.
Entre as estratégias aliadas no controle das salmonelas em avicultura destaca-se a utilização de probióticos, que são compostos contendo bactérias vivas benéficas e reconhecidas como seguras (generally recognized as safe – GRAS). Sua ação se dá na melhoria da saúde intestinal, da imunidade local e sistémica, melhoria da integridade intestinal e da sua funcionalidade, com a produção de metabólitos, entre eles os ácidos orgânicos e bacteriocinas.
A elevada presença de salmonelas nas criações avícolas com envolvimento em saúde pública e grande impacto nas exportações avícolas, requer e ressalta a necessidade na busca de estratégias de controle que envolvem uma abordagem abrangente alinhada com práticas de uma saúde única.
Gabriele Bin