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Como escolher o probiótico para meu plantel?

Em 20 de julho de 2020, a Agência FAPESP divulgou que a União Europeia (CEE) reuniu um painel de especialistas de 28 instituições de diferentes países para definirem os conceitos de MICROBIOMA e MICROBIOTA.

O Brasil foi representado pelo GCCRC (Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas) que é um órgão de pesquisa em engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e EMBRAPA na UNICAMP.

Foi, então, definido que MICROBIOTA é a comunidade de micro organismos em um determinado ambiente (no intestino, na pele, na mesa de seu escritório) e MICROBIOMA são as funções que essa comunidade de micro organismos desempenha em determinado ambiente, como absorção de nutrientes, proteção contra patógenos, produção de substratos, etc.

Nessa ocasião, a CEE criou o “Microbiome Support” para definir a prioridade nas pesquisas em MICROBIOMA que serão financiadas pela “Horizon Europe” (programa de pesquisa da CEE) estimadas em cem bilhões de euros até 2027.

Isso demonstra a crescente importância que o MICROBIOMA e a manipulação da MICROBIOTA têm para a saúde humana e animal e para os meios de produção industrial e agrícola. O uso de microrganismos (MICROBIOTA) e seus substratos (MICROBIOMA) trarão grandes melhorias na saúde humana e animal, na produtividade agrícola e industrial e também na culinária e na produção de alimentos e bebidas fermentadas. Viveremos uma nova era de intenso progresso.

E como nós podemos aproveitar isso?

Estamos apenas iniciando o uso de probióticos na avicultura com muito marketing e pouca ciência. São poucos produtores e técnicos que conhecem as verdadeiras oportunidades que o futuro nos reserva com todos os modos de uso dessa tecnologia.

Escolha do probiótico

Vamos começar pelo processo de escolha do melhor probiótico para sua empresa.

Sua equipe técnica deve isolar as principais bactérias patogênicas que esporadicamente surgem no plantel da integração (Salmonella spp., E. coli, etc) e encaminhá-las para o laboratório especializado que irá utilizar do método “Spot-on-the-lawn” para selecionar as bactérias probióticas mais ativas no combate destas bactérias patogênicas. Esse método consiste em cultivar a bactéria patogênica junto com a bactéria probiótica e observar se há ou não inibição do crescimento. Então, seleciona-se as mais ativas, que formam os maiores halos de inibição no crescimento da bactéria indesejada. São estas espécies de bactérias que devem compor o probiótico para seu plantel.

Essas boas bactérias pertencem a uma empresa produtora de probióticos e já passaram por todo o processo de seleção de espécies e cepas para formar um banco de bactérias realmente probióticas. Essa seleção, de modo bem resumido, consiste em:

Selecionar bactérias coletadas na mesma espécie (aves para aves, suínos para suínos, etc).

Possuem capacidade de colonização e resistência aos diferentes ambientes do sistema digestivo.

Produzem substratos importantes e benéficos para o hospedeiro.

Não possuem genes de resistência a antibióticos.

Fazem o “Quorum Sensing”, ou seja, se comunicam entre si de modo positivo ao hospedeiro. 

Quanto mais espécies de bactérias colocarmos no probiótico, desde que façam o “quorum sensing” e cumpram as funções especificadas acima, maior será o benefício de seu uso. O processo de produção é mais difícil e mais caro, mas o benefício é significativo.

Quando seu departamento técnico opta por usar um probiótico com uma única espécie de bactéria probiótica, e muitas vezes que não formam halos de inibição das bactérias indesejadas de suas granjas, você não está efetivamente colhendo todos os benefícios dessa estratégia.

E, mais importante, não escolha seu probiótico pelo custo apenas e sim pela relação custo/benefício. Quem compra apenas pelo custo barato acaba recebendo produtos com bactérias isoladas de outras espécies animais, que não se comunicam entre si e muitas vezes nem sequer colonizam o intestino do hospedeiro.

Objetivos do uso de probióticos

Podemos escolher probióticos e bactérias para muitas estratégias diferentes e benéficas para sua produção, como por exemplo:

  1. Melhoria do ambiente nos galpões e controle de insetos.
  2. Colonização precoce.
  3. Controle de Salmonella spp. e Campylobacter spp.
  4. Produtividade e saúde intestinal.
  5. Aumentar a produção de ácido butírico no intestino.
  6. Desativar micotoxinas ou metabólitos intestinais.

Exploraremos abaixo as quatro primeiras.

Melhoria do ambiente nos galpões e controle de insetos

A colocação de Bacillus subtilis, bactéria habitante natural do solo, em sua forma esporulada na cama do galpão, é um procedimento interessante pois favorece a melhoria ambiental. Essa bactéria é uma das mais utilizadas em agricultura e melhora a produtividade em hortaliças, grãos, etc.

Uma completa revisão, com análise paramétrica, sobre os processos de tratamento de cama de aviários nesses últimos 21 anos, foi publicada em maio (TOLEDO et al., 2020), abrangendo 5.891 trabalhos publicados com importantes conclusões sobre os diversos tratamentos.

O uso de cal hidratada, classificada no grupo dos alcalinizantes, pode causar piora da conversão alimentar e aumento de mortalidade, além de ser perigoso para quem a manipula. Nas visitas aos clientes, tenho ouvido relatos de casos de cegueira parcial em funcionários durante o processo de colocação de cal na cama dos aviários.

Existem hoje alternativas naturais e sustentáveis de produtos modernos e eficientes, que não são corrosivos e não causam problemas nenhum à saúde humana, compostos de algas marinha naturais com ingredientes nanoparticulados e alto conteúdo de alginatos. Se adicionarmos terra de diatomáceas em sua forma cilíndrica enriquecidas com Bacillus subtilis, teremos também o combate ao Alphitobius diaperinus (cascudinhos) e melhoria ambiental, favorecendo o crescimento e a sanidade das aves.

Quando temos piso de terra nos galpões, há a formação de galerias pelos cascudinhos e a permanência de insetos que podem estar positivos para Salmonella entérica. Essa é uma das principais causas da manutenção de swab de arrasto (propés) positivos para salmonelas nos galpões. Se, além do combate com inseticidas, colocarmos entre o piso e a cama 50 a 100 gramas por metro quadrado de terra de diatomáceas (micronizadas e cilíndricas) enriquecida com Bacillus thuringiensis, (bactéria considerada inseticida biológico) teremos um reforço significativo no combate desses insetos que dura por todo o ciclo de criação de um lote.

Colonização precoce nos pintos de um dia

Essa estratégia é importante para controle de salmonelas e outras bactérias e para formar uma microbiota favorável ao desempenho e saúde do plantel. Pode ser feita por aplicação “In Ovo” no incubatório, ao final do processo de incubação, durante o processo de vacinação. Pode também ser feita por pulverização sobre os pintinhos no incubatório ou fornecida na forma de mini pellets no círculo, como primeira alimentação.

À medida que a legislação sobre segurança alimentar endurece, a colonização precoce será prática obrigatória nas criações pois ajuda a criar uma microbiota benéfica com um microbioma favorável à saúde intestinal.

Controle de salmonelas, produtividade e saúde intestinal

A formação de uma microbiota saudável passa obrigatoriamente por uma colonização intestinal com bactérias selecionadas; e o uso de um probiótico composto por muitas espécies de bactérias é essencial já que o intestino das aves é colonizado por mais de 1.500 espécies e cepas diferentes. Para isso podemos utilizar, como na União Europeia, diversos probióticos compostos por uma única espécie de bactéria (obrigatório para uso na CEE) ou, como no resto do mundo, probióticos compostos por múltiplas cepas.

A técnica “Spot-on-the-lawn” permite que se selecione qual probiótico multi-cepas será utilizado em sua integração. Essa técnica mostra, por exemplo, que o Bacillus subtilis não forma halo de inibição para Salmonella spp. Para isso, é necessário acrescentar ao probiótico as bactérias residentes e secretoras.

Então, o probiótico deve ter em sua composição diversas espécies de bactérias: i) as residentes e láticas; ii) as ambientais (não residentes); iii) as láticas que desativam micotoxinas; e iv) as que incrementam a produção de ácido butírico.  Somente assim você estará utilizando todo o potencial dos probióticos.

As bactérias ambientais, não residentes (gênero Bacillus) devem ser esporuladas, e as bactérias láticas (gênero Lactobacillus, Enterococcus, Pediococcus, etc) devem ser obrigatoriamente micro encapsuladas para resistirem à peletização e aplicações de salmonelicidas nas rações.

O processo de peletização submete a ração a temperaturas elevadas no condicionador das peletizadoras e as bactérias láticas não resistem por muito tempo a temperaturas acima de 80 graus Celsius. Quando as encapsulamos com técnicas modernas, sua resistência térmica aumenta e elas resistem ao processo de peletização, perdendo um a dois logs em sua concentração na ração. Assim, temos de micro encapsular estas bactérias e aumentar sua concentração nos probióticos. Quando se usa 100 gramas de probiótico por tonelada de ração, devemos adicionar 1010 UFC/g de cada bactéria probiótica para que a ração tenha 106 UFC/g antes da peletização e 104 UFC/g após a peletização, concentração suficiente para, em uso contínuo, maximizar os resultados benéficos. Quando também utilizamos expander, devemos obrigatoriamente adicionar o probiótico após a peletização já que as bactérias láticas não resistem a esse processo.

Após selecionar as espécies de bactérias probióticas efetivas contra salmonelas pelo “Spot-on-the-lawn”, seu fornecedor deve comprovar que elas se comunicam positivamente entre si (Quorum sensing) e que são encapsuladas corretamente e produzidas nas concentrações corretas. Então você deve visitar o laboratório onde são multiplicadas para confirmar sua capacidade de produzir probióticos sem contaminações.

Depois desta seleção é que você deve discutir preço, pois há ofertas no mercado brasileiro que não respeitam esses critérios e podem custar muito menos, mas não trazem os benefícios esperados.

Se esses cuidados na escolha do probiótico forem rigorosamente seguidos, sua criação terá saúde intestinal e o uso de antibióticos curativos raramente precisará ser utilizado, trazendo melhores performances e mais segurança alimentar para o consumidor.

Referências:

DOMINGOS, I.; VELLANO, I.H.B.; MORAES, A.C.I.; ALTARUGIO, R.; ANDREATTI FILHO, R.L.; OKAMOTO, A.S. Measurement of in vitro inhibition by Lactobacillus spp. against Salmonella Heildeberg.  International Journal of Poultry Science, p.184-188, 2018.

OKAMOTO, A.S.; ANDREATTI FILHO, R.L.; MILBRADT, E.L.; MORAES, A.C.I.; VELLANO, I.H.B.; GUIMARÃES-OKAMOTO, P.T.C. Bacterial communication between Lactobacillus spp. Isolated from poultry in the inhibition of Samonella Heidelberg- proof of concept. Poultry Science. v.97, p.2708-2712, 2018.

RITTER, A.C.; FOLMER CORREA, A.P.; VERAS, F.F.; BRANDELLI, A. Characterization of Bacillus subtilis available as Probiotics. Journal of Microbiology Research. v.8(2), p.23-32, 2018. 

TOLEDO, T.S.; ROLL, A.A.P.; RUTZ, F.; ROLL, V.F.B.; DALLMANN, H.M.; DAI PRÁ, M.A.; LEIVAS LEITA, F.P. An assessment of the impacts of litter treatments on the litter quality and broiler performance: a systematic review and meta-analysis, 2020.

VAN IMMERSEEL, F.; VERMEULEN, K.; ONRUST, L.; EECKHAUT, V.; DUCATELLE, R. Nutritional modulation of microbial signals in the distal intestinal tract and how they can affect broiler health. Proceedings of the 21st European Symposium on Poultry Nutrition, p. 53-57, 2017.

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