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Controle de cascudinhos (Alphitobios diaperinus) como importância no controle das salmonelas

Diatomáceas

A Salmonella spp. é uma bactéria normalmente encontrada no ambiente e intestino das aves. Embora a maioria das cepas não seja patogênica às aves, muitos sorovares dessa bactéria estão associados a problemas de saúde pública. O trato gastrointestinal é o responsável pela entrada do patógeno nas aves e, após sua entrada, ocorre multiplicação nos cecos e, consequentemente, aumento da excreção e a presença de Salmonella spp. no ambiente.

Tabela 1: Frequência de Salmonella spp. isoladas no fluxo de produção de 32 lotes de frangos de corte.

Amostra Números de amostras coletadas Número de amostras positivas (%)
Pintos de um dia
Fígado 64 6,2
Coração 64 4,7
Saco da gema 64 3,1
Mecônio 64 4,7
Total 256 4,7
Amostras ambientais
Suabes de arrasto 96 9,4
Cascudinhos 32 12,5
Total 128 10,2
Amostras de abatedouros
Inglúvios 320 6,5
Cecos 320 2,2
Total 640 4,4

Fonte: Adaptado de Dunya, 2014.

A figura abaixo demonstra os pontos onde deve ser feito o controle para Salmonella spp.:

Figura 1: Âmbito de aplicação de medidas de biossegurança para controle de salmonelas.

Âmbito de aplicação de medidas de biossegurança para controle de salmonelas

Fonte: Dados de pesquisa Cinergis

Dentro das estratégias de controle das salmonelas na produção de aves, podemos destacar o controle de insetos nas instalações, principalmente os que estão constantemente em contato com as aves e alimentos, como o cascudinho.

O cascudinho, originário do continente africano, é uma espécie cosmopolita, comumente encontrada infestando resíduos de produtos úmidos estocados (JAPP,2008), e que provavelmente migrou para os aviários através do alimento ou de fazendas vizinhas que estocavam alimentos (WALLACE et al., 1985). Quando associados a tal agro ecossistema, esse inseto alimenta-se de aves moribundas, das carcaças, fezes e ração de aves (LESCHEN & STEELMAN, 1988). Seu ciclo de vida pode variar de 3 meses a 1 ano, dependendo das condições de temperatura e disposição de alimento. No Brasil, A. diaperinus é considerada uma praga potencial para transmissão de doenças e reservatório para a Salmonella spp.

O contato direto do inseto com a cama das aves, assim como o hábito de se alimentarem de aves moribundas e mortas, faz do A. diaperinus um veiculador de diversos patógenos, destacando-se enterobactérias (CHERNAKI-LEFFER et al., 2002), protozoário Eimeria (GOODWIN & WALTMAN, 1996) e fungos (DE LAS CASAS et al., 1968). Este mesmo inseto demonstra também ser um potencial carregador de viroses aviárias, como por exemplo, Doença de Newcastle e Doença de Gumboro (MCALLISTER et al., 1995), que causam imunossupressão nas aves e podem levá-las à morte.

Além da relação com os patógenos, os cascudinhos podem causar a piora da conversão alimentar em frangos de corte e perus, principalmente em galpões onde se mantém uma mesma cama durante 6 a 8 lotes de frangos, pois as aves ingerem tanto as larvas quanto os insetos adultos, desprezando a ração e reduzindo o ganho de peso do animal.

Na tabela abaixo, podemos notar a alta concentração de Salmonella nas fases larval e adulta do cascudinho:

Tabela 2:  Resultados de análises para Salmonella spp. em cascudinhos

Material Salmonella spp. (UFC/ g)
Adulto 70.929,00
Larva 183.636,00

Fonte: Adaptado de Japp, 2008

Além disso, sua presença em galpões de frangos e matrizes está associada à resistência bacteriana aos antibióticos e multiplicação destas cepas. Estima-se que as perdas anuais ocasionadas pelo cascudinho em granjas de alto desafio seja superior a USD 23.000 por aviário, o que reforça a importância de seu controle efetivo. Com constante e sistêmico trabalho, pode-se evitar essas perdas e reduzir a contaminação, além de evitar problemas de desempenho.

Os controles mais eficientes que temos conhecimento são:

  • Após a saída do lote: imediatamente ou, no máximo, no dia seguinte após a saída do lote, deve ser feito o enleiramento da cama, cobrindo as leiras com lona plástica afim de aumentar a temperatura e produção de gás de amônia, acarretando em uma grande mortalidade dos insetos já nos primeiros dias após a saída do lote, evitando a migração dos insetos adultos para outras instalações.
  • Terra de diatomácea: o uso de terra diatomácea tem sido muito citado como uma forma de controle para os cascudinhos, podendo ser usado em conjunto com o enleiramento e aplicação de inseticidas químicos. A terra diatomácea é um pó inerte, composto por carapaças de algas diatomáceas fossilizadas, muito usada no controle de pragas de grãos armazenados.

Nesse caso, pode ser aplicado nas laterais do galpão, sobre o piso, a partir da formação da leira. Este manejo fará com que as larvas e insetos adultos que saírem das leiras passem sobre o produto, que tem a finalidade de perfurar o exoesqueleto e absorver os líquidos internos, causando a desidratação e consequente morte do inseto, assim que houver perdido 10% do volume de água.  Após a abertura das leiras e nivelamento do galpão (6-8 dias), pode-se também espalhar a terra diatomácea sob a linha de comedouros e proceder a aplicação dos inseticidas químicos nas proporções recomendadas pelos fabricantes.

Nos galpões de piso de terra, indica-se a retirada de toda a cama antes da aplicação da terra de diatomácea; e o tratamento químico, nesses casos, pode ser feito em duas etapas, antes e depois da colocação da nova cama.

A figura 2 mostra um esquema para a aplicação da terra de diatomácea nos galpões.

Figura 2: Terra de diatomácea para reduzir infestação de cascudinhos no ambiente.

Terra de diatomácea para reduzir infestação de cascudinhos no ambiente

Fonte: dados de pesquisa Cinergis.

Estudos demonstram que as diatomáceas amorfas e de granulometria abaixo de 0,5 mm apresentam maior eficiência quando comparadas às demais. As diatomáceas cêntricas, devido a sua superfície afiada e pontiaguda tem esta ação otimizada e sua superfície de contato consegue abranger mais área por grama de produto.

Na tabela abaixo, podemos ver trabalhos que podem ter até 98% de eficiência com o uso deste material:

Tabela 3: Mortalidade de adultos de cascudinho em função das diferentes amostras de terra diatomácea e do seu tempo de exposição

Tempo Diatomaceas centricas-1 Diatomaceas centricas-2 Diatomaceas centricas-3 Diatomaceas centricas-4 Diatomaceas panadas-1 Diatomaceas panadas-2 Diatomaceas panadas-3
48 h 12,2 A b 3,8 BC b 6,2 B b 5,6B C b 1,0 BC b 1,0 BC a 0 C a
96 h 19,6 A a 16 A a 17,4 A a 17,4 A a 4,0 B a 1,4 B a 0 B a
% mort 98% 80% 87% 87% 20 7% 0%

Fonte: JAPP, 2008

O tratamento integrado é uma das chaves do sucesso para o controle de A. diaperinus nos galpões e redução de salmonelas no ambiente, sendo esse controle fundamental para o sucesso nos resultados econômicos e status sanitários da avicultura atual.

 

Referências bibliográficas:

CHERNAKI, A. M.; ALMEIDA, L. M. Exigências térmicas, período de desenvolvimento e sobrevivência de imaturos de Alphitobius diaperinus (Panzer) (Coleoptera: Tenebrionidae). Neotropical Entomology, v. 30, n. 3, 2001.

DUNYA, M. C. M. et al. Fontes de infecção e perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos de Salmonella sp. isoladas no fluxo de produção de frangos de corte. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v.81, n.3, p. 195-201, 2014

HAZELEGER, W.C. et al. Darkling beetles (Alphitobiusdiaperinus) and their larvae as potential vectors for the transfer of Campylobacter jejuni and Salmonella enterica serovar Paratyphi B variant java between successive broiler flocks. Applied and Environmental Microbiology, v.74, n.22, p.6887-6891, 2008

JAPP, ANNE KAROLINE. Influência do Alphitobius diaperinus (Panzer, 1797) (Coleéptera, Tenebrionidae) no desempenho zootécnico de frangos de corte a avaliação da terra diatomácea como estratégia para o seu controle. Curitiba, 2008

SILVA, A.S. et al. Ação do fungo Beauveria bassiana, isolado 986, sobre o ciclo biológico do cascudinho Alphitobius diaperinus em laboratório. Ciência Rural, v.36, n.6, p.1944-1947, 2006.

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