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Efeitos dos probióticos na saúde intestinal e sistema imune de leitões desmamados

O Brasil é o quarto maior produtor de carne suína no mundo, ficando apenas atrás da China, União Europeia e Estados Unidos, que ocupam respectivamente o 1º, 2º e 3º lugares no ranking (USDA, 2020). Juntos, são responsáveis por mais de 80% da produção global da carne.

A atual posição foi consequência da expansão e intensificação da produção de suínos no Brasil nos últimos anos, que passou a utilizar alta densidade de alojamento e ciclos de produção mais curtos, acarretando em animais cada vez mais desafiados.

Uma estratégia comum utilizada na cadeia suinícola é o desmame precoce, responsável pelo aumento do número de leitões produzidos por matriz por ano e pela redução do número de dias não produtivos de uma matriz. Essa prática influencia diretamente a lucratividade do setor, mas também representa um dos momentos mais críticos na vida produtiva dos suínos devido a diversos fatores estressantes como a separação da mãe, mudança de ambiente, mistura de diferentes leitegadas, troca da dieta e as dificuldades de adaptação dos leitões ao consumo de dietas sólidas.

Uma série de alterações gastrointestinais já foram associadas à prática do desmame precoce, como redução da motilidade gástrica, alteração na morfologia intestinal com a redução da altura das vilosidades do intestino, redução da absorção de nutrientes, líquidos e eletrólitos, aumento da permeabilidade a antígenos e toxinas, desequilíbrios da microbiota intestinal, incidência de diarreias, queda da imunidade e redução do desempenho zootécnico dos leitões (BOMBA et al., 2014; BROWN et al., 2006; HEO et al.,2012; LALLES et al., 2007). O desequilíbrio da microbiota intestinal é visto como uma das principais causas dos fatores fisiológicos e gastrointestinais afetados pelo desmame.

O trato gastrointestinal (TGI) dos suínos hospeda uma diversificada população de microrganismos, incluindo fungos e bactérias, que vivem em equilíbrio entre si e com o hospedeiro, que influenciam vários processos fisiológicos, incluindo digestão, absorção e metabolismo de nutrientes, desenvolvimento do sistema imunológico e proteção contra patógenos. No intestino saudável esses microrganismos trabalham em sinergia, onde cada um tem sua função na produção de metabólitos que serão usados pelo hospedeiro. A perturbação desse equilíbrio, como a prática do desmame, leva à seleção de certos grupos de bactérias que resultam na redução das bactérias comensais e suas funções, reduzindo a atividade metabólica da microbiota e propiciando o crescimento anormal de microrganismos patogênicos.

Dentro desse cenário, a utilização de aditivos probióticos, prebióticos e simbióticos vem sendo amplamente estudada e utilizada como estratégia para restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal e controlar as infeções entéricas associadas ao desmame em leitões. Esses aditivos favorecem o desenvolvimento de microrganismos benéficos para o metabolismo, aumentam a capacidade de aproveitamento dos nutrientes fornecidos na dieta e melhoram a resposta imune do organismo a agentes patogênicos.

Os probióticos são definidos como microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Bactérias ácido láticas como os Lactobacillus, Bifidobacterium, Enterococcus e leveduras do gênero Saccharomyces são os microrganismos mais frequentemente utilizados como probióticos. Vários estudos com probióticos administrados em leitões recém-desmamados mostraram um incremento de Lactobacillus, Bifidobacterium, e uma maior produção de AGCC. A capacidade dos probióticos para inibir a colonização por E. coli também foi demonstrada em vários estudos ( CHIANG et al., 2015; DOWARAH et al., 2016; KONSTANTINOV et al., 2008; TREVISI et al., 2017; YANG et al., 2015; ZHANG ET AL., 2009; ZHANG et al., 2016).

As bactérias probióticas podem produzir e liberar compostos que possuem ação bacteriana em relação aos microrganismos patogênicos. Os ácidos orgânicos, por exemplo, como o lático e propiônico produzidos pelas bactérias láticas, levam a uma redução do pH do ambiente intestinal, inibindo bactérias patogênicas. Além disso, os microrganismos probióticos se aderem ao epitélio intestinal e competem por nutrientes e sítios de ligação, dificultando a adesão de bactérias patogênicas. Os probióticos na nutrição de leitões destacam-se ainda como estimuladores do sistema imunológico, através do suporte prestado à imunidade local da mucosa intestinal, aumentando a atividade dos macrófagos, reforçando a resposta imune e consequentemente estimulando a produção de anticorpos. A figura 1 apresenta três possíveis mecanismos de atuação de cepas probióticas no combate a infecções pós-desmame por patógenos: (i) inibição direta de patógenos através da secreção de substâncias antimicrobianas e competição por sítios de ligação; (ii) modulação da composição e atividade da microbiota residente; e (iii) estimulação do sistema imune do hospedeiro e melhora na barreira intestinal.

Figura 1: Modo de ação de cepas probióticas para combater infecções pós-desmame em leitões.

Modo de ação de cepas probióticas para combater infecções pós-desmame em leitões.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Adaptado de Gresse et al., 2017.
Um bom probiótico deve, entre outras características, ser seguro ou reconhecido como GRAS (Generally Reconized As Safe) – designação dada pelo FDA para aditivos alimentares, deve resistir ao ácido gástrico e sais biliares, deve ser capaz de estimular o sistema imune e produzir substâncias antimicrobianas, as bactérias devem ser específicas e compatíveis com o hospedeiro e estarem aptas a aderir e colonizar a mucosa intestinal rapidamente.
Para uma eficiente transição pela fase de desmame, é muito importante que se encontrem estratégias capazes de restaurar e equilibrar a microbiota intestinal. Compreender a interação da microbiota com o hospedeiro e patógenos nas fases iniciais da produção de suínos, objetivando a correta manipulação desta, é determinante para o desempenho dos animais ao longo da vida produtiva.

Sobre a Cinergis
A Cinergis é uma empresa de nutrição e saúde animal que oferece soluções customizadas destinadas às várias etapas produtivas — ração, animal, ambiente —, contribuindo para a segurança alimentar.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOMBA, L. et al. Gut response induced by weaning in piglet features marked changes in immune and inflammatory response. Funct. Integr. Genomics . v.14, p.657–671, 2014.

BROWN, D.C. et al. (2006) The influence of different management systems and age on intestinal morphology, immunecell numbers and mucin production from goblet cells in post-weaning pigs. Vet. Immunol. Immunopathol. v. 111, p. 187–198, 2006.

CHIANG, M.L. et al. Optimizing production of two potential probiotic lactobacilli strains isolated from piglet feces as feed additives for weaned piglets. Asian-Australas. J. Anim.Sci. v.28, p.1163–1170, 2015.

DOWARAH, R. et al. Effect of swine based probiotic on performance, diarrhoea scores, intestinal microbiota and gut health of grower-finisher cross bred pigs. Livest. Sci. p.1871- 1413, 2016.

GRESSE R. et al. Gut Microbiota Dysbiosis in Postweaning Piglets: Understanding the Keys to Health. Trends Microbiol. v. 25, p.851-873, 2017.

HEO, J.M. et al. Gastrointestinal health and function in weaned pigs: are view of feeding strategies to control post- weaning diarrhoea with out using in-feed antimicrobial compounds. J. Anim.Physiol. Anim. Nutr. v. 97, p. 207–237, 2012.

KONSTANTINOV, S.R. et al. Feeding of Lactobacillus sobrius reduces Escherichia coli F4 levels in the gut and promotes growth of infected piglets. FEMS Microbiol.Ecol. v. 66, p. 599–607, 2008.

LALLÈS, J.P. et al. Weaning – A challenge to gut physiologists. Livest. Sci. v.108, p.82–93, 2007.

TREVISI, P. et al. Effect of feed supplementation with live yeast on the intestinal transcriptome profile of weaning pigs orally challenged with Escherichia coli F4. Animal. v. 11, p.33–44, 2017.

YANG, G.Y. et al. Influence of orally fed a select mixture of Bacillus probiotics on intestinal T-cell migration in weaned MUC4 resistant pigs following Escherichia coli challenge. Vet. Res. v. 47, p.71 89, 2015.

ZHANG, L. et al. Evaluation of Lactobacillus rhamnosus GG using an Escherichia coli K88 model of piglet diarrhoea: Effects on diarrhoea incidence, faecal microflora and immune responses. Vet. Microbiol. v. 141, p.142–148, 2009.

ZHANG, W. et al. Oral administration of a select mixture of Bacillus probiotics affects the gut microbiota and goblet cell function following Escherichia coli challenge in newly weaned pigs of genotype MUC4 that are supposed to be enterotoxigenic E. coli F4ab/ac receptor negative. Appl. Environ. Microbiol. v. 83, 2016.

 

 

 

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