Querido amigo leitor, neste artigo venho lhe falar de um assunto que tem sido uma das bandeiras defendidas ao longo de alguns anos: o impacto da quebra técnica no custo do frango na plataforma.
Mas antes de entrar neste tema, gostaria de esclarecer o que eu chamo de quebra técnica. Faço isso, pois no meu entendimento existem diferentes interpretações para este indicador quando avaliamos a ampla diversidade de empresas no segmento de produção de rações.
Exemplificando, é inerente ao processo de moagem, peletização e resfriamento (e também ao de extrusão e expansão), existirem perdas no processo em detrimento da exposição da umidade a agentes como temperatura, atrito, compressão, secagem e resfriamento. Também é importante ressaltar que, quanto menor o tamanho da partícula moída e quanto maior a agressividade do processo, maiores serão as perdas, visto que a umidade estará mais exposta e sendo assim, mais livre para que seja extraída durante a secagem e resfriamento.
A este devemos chamar de quebra técnica, ou uma perda inerente ao processo, que precisa ser trabalhada exaustivamente, pois vai depender do tipo de processo, região e sazonalidade climática. Podem, segundo a minha experiência em rações peletizadas, representar até 1,8% em determinada região e em momento específico do ano, que em média considerando rações de aves, suínos e ruminantes, em estudo realizado por mim ao longo de anos, teve uma média de 1,21% para a região Sul e 1,41% para as demais regiões do país.
Fonte: Arquivo Pessoal E.Z. Fávaro 2005 a 2019
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Existem também os erros de dosagens, misturas de produtos, descartes, erros de apontamento, falhas operacionais e demais pontos que podem gerar diferenças de estoque. A este chamamos de inventário.
Como já mencionei em outros momentos, estes dois itens acabam se misturando e criando confusão, além disso o apontamento automático afasta dos olhos dos aprovadores de inventário a dor de uma perda apontada diretamente no sistema, normalmente medida e ajustada, gerando assim uma falsa impressão de controle. Imagine, você retirar completamente a quebra apontada automaticamente e mensalmente e ter de aprovar um inventário de 1,41% de toda a ração que você produz. Isto custaria muitas horas de reunião, muita dor de cabeça para comprovação e muitos desligamentos do quadro de pessoal, afinal ninguém gosta de aprovar perdas.
Sendo assim trago a você outro desafio para a sua análise pessoal enquanto gestor.
Segundo a EMBRAPA, e a USDA, em janeiro de 2023, 71,82% do custo do frango na plataforma era representado pela ração e 14,18% eram representados pelo pintainho. Considerando que aproximadamente 50% do custo do pintainho seja oriundo da ração ingerida pelas matrizes, automaticamente temos um valor de 80,41%. Este é um cenário que se repete e que tem pouca variabilidade nos últimos 2 anos. Portanto, uma perda média de 1,31% que representa a média da quebra técnica, incluindo a apontada automaticamente no sistema, representa uma diferença no custo de 0,953% de acréscimo a este custo, o que segundo especialistas como Dr. Gabriel Jorge Neto, Diretor Técnico da Cinergis, pode representar algo próximo de 10% das margens deixadas pelo frango no final do processo.
Aqui deixo minha mensagem final: em um universo de margens apertadas, muitas vezes negativas, com um cenário cada vez mais arrojado de custos e com a competitividade sendo fator chave para a sobrevivência, qual foi a última vez que você olhou para este indicador? Como você vem trabalhando para eliminar esta dor silenciosa que destrói uma fatia tão importante dos seus recursos e principalmente da lucratividade?
Por fim faço uma última observação que precisa ficar clara, a umidade que desejamos não é água livre, mas a umidade necessária, ligada e transformada que proporciona benefícios nutricionais através da transformação do amido.
Esta é a eliminação de quebra técnica que devemos buscar, afinal não existe gelatinização sem umidade. Quando a gelatinização ocorre ela melhora o PDI, os níveis nutricionais através da liberação de glucose e por consequência os ganhos zootécnicos. Pense nisso!
Por Ednilson Fávaro