O Brasil é o maior exportador e o segundo maior produtor de carne de frango do mundo, o que torna a avicultura brasileira uma das mais produtivas no cenário mundial. Isso implica em atender as exigências do mercado consumidor nos quesitos sanidade avícola e qualidade dos alimentos.
A segurança alimentar está cada vez mais na pauta das barreiras não tarifárias e constitui fator importante na sustentabilidade da empresa (KOTTWITZ et al., 2012). Neste contexto, a Salmonella spp. é comumente associada a alimentos de origem avícola e pode levar a surtos de infecção em humanos, o que faz com que seja monitorada mundialmente, sendo fator de suspensão ou continuidade de abastecimento em países que o Brasil mantém relações internacionais.
O controle de microrganismos patogênicos deve estar presente em todas as etapas da produção e industrialização de frangos e ovos nas empresas que desejam ter sucesso no mercado mundial avícola. A Salmonella spp. e outros microrganismos patogênicos desenvolveram diversos mecanismos no intuito de sobreviver e de se manter em ambientes adversos, dentre eles a capacidade de aderir em superfícies e produzir biofilmes. (STEENACKERS et al., 2012).
Sabendo que as principais vias de contaminação são através da aquisição de aves já contaminadas, alimentação e ambiente, precisamos nos atentar as formas de prevenção. Dentre estes métodos gostaria de enumerar alguns:
- Aquisição de material genético livre de Salmonella spp. Medidas de biossegurança que visem a prevenção da contaminação do material genético, como o estabelecimento de critérios rigorosos de entradas de veículos, pessoas e animais provenientes de outros criatórios.
- Água e ração ofertadas às aves precisam ter a qualidade monitorada. Para a prevenção da contaminação oral, podemos destacar o uso de produtos químicos à base de formaldeído ou ácidos orgânicos no tratamento de rações e ingredientes, tanto de origem vegetal ou animal (tabelas A e B). Nesse caso, a quantidade de produto, poder residual e local de aplicação são fatores determinantes para a eficiência do uso desses produtos. Isso tudo deve ser associado à condições sanitárias adequadas de produção e origem das matérias primas, bem como à biossegurança e rastreabilidade em veículos e instalações onde a ração é armazenada e distribuída. Outro processo que pode ser utilizado é o tratamento térmico associado ao uso de bactericidas com longo efeito residual fazendo com que o sistema receba um “flushing” contínuo.
O uso de aditivos probióticos com bactérias residentes e multicepas associados ou não a prebióticos, trata-se de uma ferramenta importante para evitar a multiplicação de Salmonella no intestino das aves. Mesmo com a ingestão de pequenas quantidades de Salmonella, é importante que a microbiota seja manipulada com bactérias residentes para que protejam a mucosa intestinal evitando a passagem de Salmonella ao organismo do animal e multiplicação no ceco.
- Para redução da contaminação no ambiente é importante levar em consideração que um dos maiores vetores é o besouro Alphitobius diaperinus, popularmente conhecido como “cascudinho”. Vários trabalhos relatam a relação entre o cascudinho e a presença de Salmonella na cama, isso devido à temperatura, níveis de umidade e disponibilidade de alimento encontrado no interior dos galpões, que favorecem sua multiplicação. Por isso é essencial que as granjas adotem medidas de controle desse inseto, principalmente estratégias que visam à redução da umidade das instalações e da cama.
A prevenção e controle da Salmonella spp. devem ser constantes em qualquer sistema de produção. Produzir aves seguindo as boas práticas de produção e bem nutridas é a base para o sucesso e viabilidade do negócio. Nos próximos artigos traremos mais informações e dicas para redução desse patógeno.
Tabelas:
A – Porcentagem de granjas com amostras positivas para Salmonella na cama com ou sem tratamento químico da ração.
Período de amostragem | Tratamento químico da ração | Número de granjas | Porcentagem de granjas com amostras positivas para Salmonella na cama |
1996 (Abr – Dez) | Não | 17 | 93,7 |
1997 (Jan – Dez) | Sim | 17 | 29,4 |
1998 (Jan – Dez) | Sim | 17 | 11,7 |
1999 (Jan – Dez) | Sim | 16 | 12,5 |
2000 (Jan – Dez) | Sim | 14 | 0 |
Fonte: Adaptado de Willians (2000)
B – Incidência de contaminação (%) de diferentes ingredientes presentes em rações
Ingrediente (n = número de amostras) |
Salmonella spp (%) | Clostridium (%) |
Farelo de trigo (n=85) | 28,3 | 35,2 |
Cevada (n=123) | 16,3 | 10,2 |
Milho (n=298) | 1,1 | 1,2 |
Farelo de Soja (n=464) | 10,8 | 5,3 |
Farelo de girassol (n=70) | 10,9 | 13,3 |
Farinha de carne (n=109) | 17,4 | 33,6 |
Farinha de peixe (n=61) | 13,6 | 11,4 |
Fonte: Adaptado de Prió et al. (2001)
Referências Bibliográficas:
KOTTWITZ, L.B.M.; SCHEFFER, M.C.; COSTA, L.M.D.; LEÃO, J.A.; BACK, A.; RODRIGUES, D.P.; MAGNANI, M.; OLIVEIRA, T.C.R.M. Perfil de resistência a antimicrobianos, fagotipagem e caracterização molecular de cepas de Salmonella Enteritidis de origem avícola. Ciências Agrárias, Londrina, v.33, n.2, p.705-712, 2012
STEENACKERS, H. et al. Salmonella biofilms: An overview on occurrence, structure, regulation and eradication. Food Research International, v. 45, n. 2, p. 502-31, 2012.