Inicialmente, vamos definir de modo sumário os quatro “BIÓTICOS”:
Antibióticos: medicamentos que matam as bactérias
Probióticos: são bons micro-organismos vivos (bactérias e leveduras) que quando ingeridos trazem benefícios ao hospedeiro
Prebióticos: são alimentos (fibras e açucares) não digeridos pelo hospedeiro que são consumidos pela microbiota favorecendo sua multiplicação.
Simbióticos: é o uso conjunto, com efeito sinérgico de probióticos e prebióticos na alimentação do hospedeiro.
O Projeto do Microbioma Humano, iniciado em 2007 e ainda em andamento, tem trazido conhecimento inédito sobre a saúde e bem-estar. Descobriu-se que os humanos e animais são colonizados por dez bactérias para cada célula corporal. Essas bactérias são definidas como microbiota e são essenciais para a saúde do hospedeiro, influenciando em sua digestão, imunidade, produtividade e qualidade de vida. Mensalmente são publicadas novas pesquisas com surpreendentes descobertas, mostrando novas ações da microbiota em saúde mental, depressão, autismo, alergias, imunidade etc.
O equilíbrio da microbiota e sua modulação inteligente com uso de probióticos tem sido uma ferramenta importante na produtividade sustentável da pecuária e tem apresentado avanços constantes e consideráveis nos últimos anos. Os conceitos da década passada sobre o assunto estão totalmente ultrapassados.
Há muitas estratégias para o uso inteligente dos probióticos e vamos destacar seis delas:
ESTRATÉGIA UM: uso de bactérias não residentes, mas melhoradoras da saúde intestinal, geralmente do gênero Bacillus (Bacillus subtilis, Bacillus lichiniformes, etc.) que precisam ser esporulados e, por não serem residentes e não colonizarem o intestino, devem ser de uso contínuo. Elas estimulam a produção de ácidos graxos pela microbiota, melhoram o ambiente intestinal e a produtividade com boa relação custo/benefício, melhoram os sintomas da clostridiose, mas, nas avaliações pela técnica “spot on the lawn” não inibem diretamente a Salmonella e Esclerichia coli pois não formam halos de inibição. São também boas bactérias para colonizarem a cama e galpão das aves, trazendo melhorias ambientais nítidas. São bactérias multi espécies e são usadas também em agricultura aumentando a produtividade de milho, cana de açúcar, etc. Quando fornecidas em sua forma esporulada resistem a peletização, mas não ao expander ou extrusão.
ESTRATÉGIA DOIS: O uso de bactérias residentes que, historicamente, são colonizadoras do intestino e compõem a microbiota benéfica, como as do gênero Lactobacillus, Enterococcus, Pediococcus, etc. São bactérias que há milhares de anos colonizam naturalmente as aves, são ácido láticas, habitam o sistema digestório e são produtoras de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) como os ácidos acético, lático, propiônico. Elas são efetivas no combate à Salmonelas e Esclerichia coli, melhoram a imunidade e o desempenho, diminuem os sintomas de clostridiose e devem ser obrigatoriamente originadas na espécie onde serão aplicadas, os seja, devem ser de aves para aves. Por não serem resistentes a temperaturas elevadas, devem ser micro encapsuladas por processos que as permitem resistir as partes ácidas do trato digestório e serem disponibilizadas nos locais adequados do intestino onde irão colonizar e proteger contra patógenos. Conforme a técnica de micro encapsulamento e a quantidade fornecida por grama de ração, podem resistir parcialmente à peletização, perdendo no processo um a dois logaritmos, chegando ao comedouro com 10e4 bactérias por grama, suficientes para uma excelente colonização intestinal. O preço de compra, no caso de optar por produtos comerciais compostos por bactérias residentes não encapsulados, deve ter um bom desconto.
ESTRATÉGIA TRÊS: uso de bactérias residentes que adsorvem toxinas e micotoxinas, (Lactobacillus rhamnosus (ATCC 7469) que devem ser micro encapsulados. O uso dessas bactérias merece um artigo próprio pois podem compor múltiplas estratégias.
ESTRATÉGIA QUATRO: Bactérias que transformam os ácidos (AGCC) produzidos pelas bactérias da microbiota em ácido butírico como o Clostridium butyricum (esporulado) melhorando a alimentação do enterócito. É o programa que mais intensamente combate os sintomas da clostridiose (enterite necrótica). Essa estratégia é uma das mais interessantes ferramentas e deve vir associada sempre com probióticos compostos por bactérias residentes ácido láticas. A disponibilidade de ácido butírico, principal alimento dos enterócitos é elevada e fisiologicamente equilibrada na luz intestinal.
ESTRATÉGIA CINCO: consiste em associar o uso das estratégias um e dois, ou associar as estratégias um, dois e três, ou melhor ainda, associar as quatro estratégias. Nesse caso é necessário a assistência de médicos veterinários especializados que podem definir o melhor programa e que compreendam os mecanismos de ação dos simbióticos.
ESTRATÉGIA SEIS: acrescentar o uso de combinações de prebióticos à estratégia cinco (simbióticos)
A técnica laboratorial “spot on the lawn” é a maneira mais eficaz para escolhermos o probiótico ideal para nossa granja e consiste em cultivarmos no mesmo meio de cultivo a bactéria patogênica isolada em nossas granjas com a bactéria probiótica e observarmos se há ou não a formação do halo de inibição. Devemos escolher as bactérias probióticas que formaram os maiores halos de inibição para comporem o probiótico que usaremos na criação. É evidente que para isso a produtora do probiótico necessita ter um banco de bactérias probióticas comprovadas.
O uso de probióticos com múltiplas espécies e gêneros de bactérias é sempre melhor que com uma única bactéria. Mas devemos escolher probióticos multi-espécies de empresas que consigam provar que há o mecanismo de “Quorum sensing” entre suas combinações bacterianas. O “Quorum sensing” é um mecanismo de comunicação e colaboração entre bactérias que aumenta a efetividade e atuação do probiótico, trazendo um benefício muito maior à produtividade e saúde do plantel. Quando há o mecanismo de comunicação entre bactérias, quanto mais espécies houver melhor é o probiótico.
A quantidade de bactéria probiótica viável ingerida pela ave é também relevante. Devemos oferecer pelo menos 10e3 bactérias por grama de ração em fornecimento contínuo. Quando fornecermos via água o ideal é 10e4 por mililitro de água bebida. O fornecimento do probiótico para colonização da ave deve preceder o alojamento na granja para colonizar o intestino com boas bactérias antes de serem colonizadas pelas bactérias do galpão.
Baseado nos experimentos realizados nos últimos anos em minha granja no Maranhão (700 mil frangos de corte), na evolução dos conhecimentos descobertos pelo projeto do Microbioma Humano, pela constatação cada vez mais consistente dos mecanismos de resistência bacteriana aos antibióticos e por uma legislação de uso de aditivos cada vez mais sustentável, posso afirmar com segurança que em poucos anos todas as empresas irão utilizar probióticos em suas rações.
Temos resultados de campo com uso de probióticos e simbióticos muito bons, com custo/benefício equivalente ao uso de promotores de crescimento antibióticos, mas com mais saúde intestinal, menos positividade de propés para salmonelas em camas de aviários e com diminuição de tratamentos curativos de enterites.
A manipulação da microbiota por diferentes estratégias de uso de probióticos e simbióticos é um mar de oportunidades e desafios, podendo ser um diferencial para a sobrevivência e crescimento econômico das empresas e para produzir um alimento mais saudável e sem resíduos para um consumidor cada vez mais esclarecido e exigente.
Este artigo foi publicado originalmente no portal O Presente Rural.