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Tratamento de cama de frangos de corte

Queima de penas

A cama de frangos deve proporcionar conforto e bem estar aos animais, permitindo maior expressão da produtividade dos lotes. Sua reutilização é uma prática comum na avicultura industrial em função de aspectos econômicos e ambientais. Assim, o manejo aplicado as camas, durante o intervalo entre lotes, constituem um dos fatores determinantes para a sua qualidade e reuso. Notadamente, a sanitária, permitindo a quebra do ciclo das doenças ou redução do desafio por agentes patogênicos, condições importantes para o sucesso da produção.

A cama nova deve apresentar umidade entre 15% a 25%. Isto permite a absorção de água de 171 a 207 gramas para cada 100 gramas de material. Inicialmente, seu pH é ligeiramente ácido (pH 6,0), se elevando à medida que as aves excretam seus uratos via fezes. Estes se transformam em amônia por ação microbiana, podendo chegar a pH 9,0. Níveis elevados de amônia nos galpões estão correlacionados com o agravamento de problemas respiratórios, lesões de pele e peito, e calos de patas. Consequentemente, perdas econômicas, independente das instalações, sejam elas modernas ou mais antigas.

A carga microbiana da cama aumenta muito rapidamente e continuamente com a presença e manutenção das aves no ambiente e ocorre uma certa estabilização da carga bacteriana a partir do terceiro lote sobre a mesma cama. Uma vez que a população de bactérias é estabelecida, esta permanecerá relativamente constante ao longo do tempo, independente do número de aves que foram alojadas sobre ela. Muitas destes microrganismos da microbiota são patógenos potenciais (humanos ou das aves) e seu número crescente impacta negativamente nos resultados do lote. Além disto, há um crescente número de insetos presentes na cama. A reutilização de cama dos aviários, com o tratamento adequado para redução de riscos microbiológicos, é uma prática segura e recomendável.

Além dos aspectos microbiológicos, vários outros parâmetros devem ser observados para a reutilização das camas. Um deles é a umidade residual, muitas vezes observada pelo aspecto físico das mesmas. Camas com alta umidade dificultam a absorção dos dejetos produzidos pelas aves, podendo comprometer o desempenho e a qualidade das mesmas. Também, camas reutilizadas geralmente apresentam maior teor de amônia e pH mais elevados.

Vários procedimentos são recomendados no tratamento das camas de reuso. Entre os mais comuns, estão os métodos fermentativos. Estes provocam o aumento da temperatura e a diminuição do pH da cama. A seguir, passaremos a descrevê-los com um pouco mais de detalhes.

Fermentação Plana ou Fermentação em Leiras

1º Passo: Retirar todas as aves mortas existentes na cama e destinar para a compostagem.

2º Passo: Deixar o aviário fechado por, no máximo, 12 horas após a retirada do lote.

3º Passo: Lavar os comedouros, nipples, telas, cortinas, paredes, lonas das divisórias internas, demais áreas e equipamentos internos, forração e bandôs do aviário.

4º Passo: Iniciar o enlonamento.

Fermentação em leira

Figuras 1 e 2: Quando a fermentação for em formas de leiras, fazer somente uma leita no centro do aviário e, em seguida, fazer o enlonamento cobrindo toda a leira mantendo bem vedada as laterais da lona (Fonte: banco de dados Cinergis).

Fermentação plana

Figura 3: Fermentação plana da cama: estender a lona das laterais para o centro do aviário. Faça o mesmo processo para os dois lados do aviário (Fonte: banco de dados Cinergis).

5º Passo: Deixe a lona sobre a cama por 7 a 10 dias. Observe para que a lona seja bem vedada e que o aviário seja mantido fechado.

6º Passo: Após este período, recolha a lona dobrando-a com cuidado e a guarde-a em local adequado.

7º Passo: Revolver e secar a cama do aviário. Faça isto abaixando as cortinas em dias secos e mantendo ventilação mínima em dias úmidos e no período noturno para melhor secagem. Faça esta operação quantas vezes forem necessárias.

Revolvimento da cama

Figura 4: revolvimento da cama (Fonte: banco de dados Cinergis).

8º Passo: Queimar as penas de forma uniforme em toda a extensão do aviário.

Queima de penas

Figura 5: Queima de penas (Fonte: banco de dados Cinergis).

9º Passo: Aplicar secante de cama após o processo de queima de penas.

Aplicação de secante de cama

Figura 6: Aplicação de produto para retirar umidade da cama (Fonte: banco de dados Cinergis).

10º Passo: Fazer um eficiente controle de cascudinho e preparar para o alojamento, seguindo as normas de cada empresa.

Para obtenção de efeito redutor expressivo sobre bactérias indesejáveis, o período de tratamento das camas não deve ser inferior a 12 dias.

É possível e recomendado a adoção da adição de produtos químicos nos processos fermentativos com a finalidade do aumento da eficiência e qualidade da cama de reuso.

Uma excelente revisão foi publicada recentemente com análise paramétrica sobre os efeitos de diferentes processos de tratamento da cama de aviários sobre parâmetros de rendimento de lotes de frangos de corte (Toledo et al. 2020).

Esta análise paramétrica abrangeu 5.891 trabalhos publicados em 21 anos (1998 a 2019). Destes, 65 foram avaliados na íntegra, 35 preenchiam os critérios estabelecidos e 26 foram usados para a meta análise. Os resultados deste estudo representam dados de 10 países (Europa, Ásia e Américas). Foram avaliados três grupos de produtos usados nos tratamentos das camas:

– Acidificantes: Sulfato de alumínio, Bissulfato de sódio, Permanganato de potássio, Cloreto de alumínio, Sulfato ferroso, Argila acidificada, Alúmen, Softacid (uma mistura de lignosulfonato de sódio, ácido fórmico e ácido propriônico) e AFC (produto contendo ácido fosfórico, clorídrico e cítrico), Fosfato monobásico de cálcio. Este é o grupo mais usado em todo o mundo, entre eles o sulfato de alumínio. O superfosfato reduz o pH, mas foi excluído da meta-análise de ganho de peso, ingestão, conversão alimentar e umidade por se ter apenas um trabalho.

Este grupo atua na redução do pH, da amônia, da umidade e da microbiota patogênica da cama. Houve melhor ganho de peso e menor mortalidade dos lotes criados sobre camas tratadas com produtos deste grupo. O gesso (CaSO4) foi efetivo na redução da concentração e volatilidade da amônia, melhorando a conversão alimentar.

– Alcalinizantes: Cal hidratada e virgem, calcário calcítico e dolomítico. Este grupo atua no aumento do pH, redução da umidade e da microbiota patogênica. Há piora na conversão alimentar e aumento da mortalidade.

– Adsorventes: Sepiolita (argila branca), zeólita, bentonita, carvão. Este grupo reduz a umidade da cama.

Os dados dos processos exclusivamente fermentativos foram excluídos da meta-análise, por ter um único trabalho para as variáveis ​​ganho de peso, consumo e conversão alimentar, estudo para amônia, pH, umidade e única publicação para microbiota patogênica.

Nestas análises, foram destacados os seguintes parâmetros as observações:

  • Consumo de alimentos: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos;
  • Ganho de peso: Melhora com acidificantes. Alcalinizantes e adsorventes igual ao controle. Alcalinizantes tende a ser pior;
  • Conversão alimentar: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos. Mas, numericamente melhor para o grupo tratado com os acidificantes. Gesso foi melhor que o controle. Lote com alcalinizantes foram piores;
  • Mortalidade: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos. Mas, numericamente melhor para o grupo tratado com acidificantes e pior para os com alcalinizantes;
  • Amônia: Redução da concentração e volatilidade em todos os grupos, melhor com gesso e acidificantes. Os grupos tratados com alcalinizantes, adsorventes e superfosfato não diferiram estatisticamente dos grupos controle (P>0,05);
  • pH: Alterado pela aplicação de produtos dos três grupos. Acidificantes e superfosfato abaixaram os valores de pH, enquanto que os agentes alcalinizantes aumentaram os valores. Os adsorventes e gesso mostraram tendência na redução do pH;
  • Umidade. Efeito positivo para os três grupos. Gesso mostrou pequena redução;
  • Microbiota patogênica. Redução para os três grupos de tratamento.

Quadro 1 – Análise paramétrica sobre os efeitos do uso de diferentes processos de tratamento da cama de aviários sobre parâmetros de rendimento de lotes de frangos de corte, comparativamente a lotes controle criados sobre cama não tratadas (5.891 trabalhos em 21 anos – 1998 a 2019).

 

Grupos de produtos Ganho de peso Conversão Alimentar Mortalidade** Amônia pH da cama
Acidificantes Melhora Melhora Menor Reduz Abaixa
Alcalinizantes Igual controle* Piora Aumenta Igual Aumenta
Adsorventes Igual controle NA NA Igual Abaixa

Fonte: Toledo et al. (2020).

Acidificantes: Sulfato de alumínio, Bissulfato de sódio, Permanganato de potássio, Cloreto de alumínio, Sulfato ferroso, Argila acidificada, Alúmen, Softacid (mistura de lignosulfonato de sódio, ácido fórmico e ácido propriônico), e AFC (contém ácido fosfórico, clorídrico e cítrico), fosfato monobásico de cálcio, superfosfato, gesso.

Alcalinizantes: Cal hidratada e virgem, calcário calcítico e dolomítico.

Este grupo atua no aumento do pH, redução da umidade e da microbiota patogênica.

O subgrupo fermentação foi excluído da metanálise, por ter um único trabalho para as variáveis ​​ganho de peso, consumo e conversão alimentar, estudo para amônia, pH, umidade e única publicação para microbiota patogênica.

Consumo de alimentos: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos

(*) Ganho de peso: Alcalinizantes tende a ser pior.

Conversão alimentar: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos. Mas, numericamente melhor para o grupo com os acidificantes e pior com alcalinizantes.

(**) Mortalidade: Sem diferença estatística (P>0,05) entre os grupos. Mas, numericamente melhor para o grupo com acidificantes e pior para os com alcalinizantes.

Amônia: Redução da concentração e volatilidade em todos os grupos, melhor com os acidificantes. Os grupos com alcalinizantes e adsorventes não diferiram dos grupos controle (P>0,05).

pH da cama: Alterado pela aplicação de produtos dos três grupos. A redução do pH, além de reduzir a carga bacteriana da cama, reduz a volatilização da amônia, melhorando as condições ambientais do aviário. A volatilização da amônia ocorre em pH 7,0 ou superior.

Umidade da cama. Efeito positivo para os três grupos. Gesso mostrou pequena redução;

Microbiota patogênica: Reduz com a utilização de produtos dos três grupos.

NA: Não analisado

Existem, hoje, alternativas naturais e sustentáveis de produtos modernos de alta eficiência, que não são corrosivos e não causam problemas nenhum a saúde humana. São a base de algas marinhas naturais, com alto conteúdo de alginatos, sendo que os mesmos proporcionam inúmeros benefícios após a sua aplicação no manejo de reuso da cama:

  • Redução dos níveis de amônia/gases tóxicos;
  • Controle de salmonelas na cama e ambiente;
  • Redução de enterobactérias e clostrídios (1 log)
  • Cama mais seca;
  • Melhora do ambiente;
  • Melhora de índices zootécnicos (mortalidade, C. A, GPD, IE);
  • Maior aproveitamento de patas (15 a 20%);
  • Menor incidência de calo de peito;
  • Maior aproveitamento da cama (nº lotes);
  • Maior conforto e segurança operacional;
  • Melhor utilização de mão de obra;
  • Maior nível de nitrogênio orgânico na cama.

Precisamos sempre estar atentos a essas tendências que beneficiam, não somente os resultados zootécnicos, mas também a redução de riscos trabalhistas e redução da positividade de salmonelas em suabes (propés).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Toledo, T.S.;  Roll, A.A.P.;  Rutz, F.; Roll, V.F.B.; Dallmann, H.M.; Dai Prá, M.A.; Leivas Leite, F.P. An assessment of the impacts of litter treatments on the litter quality and broiler performance: a systematic review and meta-analysis. Published online 2020 May 6. doi: 10.1371/journal.pone.0232853

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