Em nosso último artigo, “A eficácia e as deficiências do tratamento térmico para o controle microbiológico em rações”, falamos sobre a efetividade do controle da peletização e de seus efeitos sobre a contaminação do alimento, a possibilidade de nova contaminação ainda no processo de fabricação, se estendendo até o campo, passando por todas as etapas do processo, chegando até o trato digestivo dos animais e posteriormente até o abatedouro. Renato Libera, em seu artigo “ Panorama geral sobre a Salmonella spp.”, já nos deu um panorama real e claro dos impactos provocados por este problema crônico, instalado no cenário da avicultura mundial, bem como os prejuízos gerados por este mal que assola não só a avicultura, mas toda a cadeia de produção de proteína animal.
Se analisarmos as informações da tabela abaixo, fica evidente que a peletização por si só não tem efetividade na sanitização dos alimentos. Assim, nos resta entender um pouco mais do processo, como ele ocorre e como podemos agir para garantir que um alimento chegue livre de salmonelas até os animais, assegurando que uma das formas de contaminação dos animais, a ingestão de alimentos contaminados, seja eliminada, reduzindo uma variável importante para redução dos níveis finais de contaminação e positivação em granjas e abatedouros.
Local/Amostra | Incidência (%) |
---|---|
Silo – Grãos de cereais | 3 |
Silo – Sub-produtos | 4 |
Silo – Farinhas de proteínas animais | 67 |
Misturador – Ração | 69 |
Condicionador da peletizadora – Ração | 32 |
Prensa da peletizadora – Ração | 4 Saiba mais |
Resfriador da peletizadora – Ração | 7 |
Silo de expedição – Ração peletizada | 13 |
Caminhão – Ração peletizada | 13 |
Silo da granja – Ração peletizada | 19 |
Fonte: elaboração própria de dados adaptados de Shrimpton (1989).
Analisando estas informações e formando um paralelo à nossa realidade, fica claro que a constatação feita por Shrimpton em 1989 se replica nos dias atuais. Também fica claro que, ao fazer monitoramentos intensos e em locais e pontos estratégicos, os dados contidos nesta tabela se replicam de forma sistêmica até os dias de hoje. Portanto, não há alternativa para o controle de salmonelas a campo que não passe por um tratamento efetivo que seja capaz de descontaminar o alimento completamente, desde as matérias primas até o seu consumo.
Para sermos efetivos, precisamos seguir alguns passos importantes em que conhecer o problema, entender como ele se comporta, entender os mecanismos de dispersão e os mecanismos efetivos de controle são fundamentais.
Partindo do princípio que conhecemos efetivamente as fontes de contaminação e de propagação, podemos seguir para as formas de controlar o problema quimicamente. Assim, surgem diferentes alternativas e propostas no mercado. O tema é bastante estudado e, como podemos ver a seguir, o uso de diferentes ácidos e concentrações para controle das salmonelas é citado por autores em diferentes trabalhos.
Ácido Orgânico | Tempo (dias) necessário para reduzir em 90% a contaminação sob diferentes níveis de tratamento | |||
---|---|---|---|---|
5 kg/t | 8 kg/t | 10 kg/t | 12 kg/t | |
Fórmico | 12 | 4 | 1.5 | 0.8 |
Acético | NO | NO | 16 | 12 |
Propiônico | NO | NO | 14 | 8 |
Lático | NO | 35 | 17 | 10 |
*NO – Não foi observada redução nos níveis de enterobactérias. |
Fonte: elaboração própria de dados adaptados de Vanderwal (1979).
Analisando os dados, podemos concluir que, além de inviável financeiramente pela alta inclusão de qualquer que seja o ácido acima citado, o tratamento é completamente ineficaz, tendo em vista o tempo necessário para reduzir a contaminação.
Também já citado por outros autores, o experimento de Zaldivar (1990) e Kaiser (1992) demonstram que mesmo quando tratamos uma fonte de proteína com altas inclusões de ácidos, sua efetividade é baixa e seu tempo de ação também, porém os autores mostram uma alternativa mais eficiente conforme podemos verificar.
Produto – dosagem | Tempo necessário (dias) |
---|---|
Ácido propiônico tamponado – 6kg/t | 05/jul |
Blend de ácido propiônico – 10kg/t | 05/jul |
Mistura de propiônico e ácido fórmico – 10kg/t | 01/fev |
Mistura de formaldeído e ácido propiônico – 2kg/t | 01/fev |
Fonte: elaboração própria de dados adaptados de Zaldivar (1990); Kaiser (1992).
A tabela abaixo mostra um trabalho realizado internamente, em que foram comparadas diferentes formas de tratamento com diferentes alternativas para o controle de Salmonella spp.
Composição | Dosagem (kg/ton) | UFC controle | UFC tratamento | Redução (log) |
---|---|---|---|---|
34% formol + 7% propiônico | 0,3 | 8 x 109 | 7,8 x 106 | 3 |
34% formol + 7% propiônico | 1,2 | 2 x 108 | 2 x 101 | 7 |
Ácido fórmico | 2 | 8 x 109 | 2,5 x 104 | 5 |
Ácido fórmico | 5 | 2 x 108 | 1 x 102 | 6 |
50% formol + 50% propiônico | 2 | 8 x 109 | 7 x 108 | 1 |
50% formol + 50% propiônico | 5 | 2 x 108 | 1 x 103 | 5 |
Diformiato + Dipropionato | 3 | 1 x 108 | 1 x 107 | 1 |
Diformiato + Dipropionato | 6 | 8 x 109 | 3,4 x 108 | 1 |
Diformiato de Potássio (96,5%) | 6 | 108 | 105 | 3 |
Fonte: elaboração a partir de dados da Cinergis.
Neste último quadro, podemos concluir que a alternativa mais eficaz para o controle da Salmonella spp. continua sendo o Formaldeído + Propiônico, com seus segredos intrínsecos, mesmo diante de suas particularidades e debates ao redor deste composto.
Com base em todos os dados apresentados, podemos concluir que para se obter uma redução significativa nos níveis de Salmonella spp. a campo, faz-se necessário controlar a sua presença no alimento que será consumido pelos animais, porém para que este controle seja realmente efetivo, etapas importantes como o entendimento do problema, estruturação de estratégia abrangente e uma abordagem sistêmica precisam ser minunciosamente seguidas. O tratamento químico é necessário para garantir que os níveis de contaminação e nova contaminação sejam realmente minimizados e controlados de forma que o alimento esteja livre de salmonelas e outros patógenos.
Por fim, o meio mais eficiente de controlar salmonelas continua sendo o formaldeído, aplicado de forma correta, no local certo, seguindo rigorosamente um padrão de qualidade e de posse de mecanismos que façam com que este produto venha a ter a ação efetiva e prolongada, trabalhando com dosagens menores, evitando novas contaminações e garantindo que os animais consumirão alimentos seguros. Sem dúvida isto proporcionará redução nos níveis de contaminação a campo e no abatedouro.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SHRIMPTON, D.H. The Salmonella of Britian. Milling Flour and Feed (Jan.). p.16 – 17. 1989.
VELDMAN, A. et al. A survey of the incidence of Salmonella species and Enterobacteriaceae in poultry feeds and feed components. Vet. Rec. p. 169 – 172. 1995.
KAISER, S. International Association of Fishmeal Manufacturers. Research Report. 1992.
ZALDIVAR, J. Use of Chemical Products in Sterilizing Salmonella in Fish Meal. In: The Proceedings of the International Association of Fishmeal Manufacturers Annual Conference, Reykjavik, Iceland p. 87: 22 – 34. 1990.